segunda-feira, 26 de maio de 2008

Labirinto


Um ligeiro espaço em branco num início de um parágrafo.
É assim que me sinto, perdido na realização da escrita, no instante anterior à primeira maiúscula...
Fogem-me os nomes e os verbos, já nem consigo conjugá-los e a acção parece ter abandonado o sujeito.
Encho o peito de ar, o coração de esperança e lentamente começo a caminhar nestas linhas, sendo agraciado pela percepção de que, tanto na escrita como na vida, o importante não é procurar, mas sim encontrar...

terça-feira, 20 de maio de 2008

Até ao fim...


Pergunto-me se existes, tu que, como fonte de água viva, brotas do seio da terra virgem, imaculada e fresca, matas-me a sede, que a boca quente ansiava por ter.
Corpo do meu texto, livro aberto onde te descrevo.
Fôlego que me invade de oxigénio, levito, pairo como ave suspensa sobre o firmamento, brilho de estrela, lamento.
Palavras em mim que vestem o teu corpo, nu, que aqueço em mim, retrato desenhado da tua pele, ou, simples saudade que a palavra descreve.
Distância que te trás perto, lugar estreito, rumor que se propaga pelo Universo.
Final, antecipadamente anunciado, abraço, apertado.
Neste lusco-fusco, neste quarto, onde todas as noites és sonhada, jardim, perfumado de essências, lugar sagrado.
Esta noite sou um cântico, voz dos poetas, música celeste que em teus sentidos remexe.
Quebro o silêncio, invado-te com mil palavras em mim, trazendo a luz, criando as sombras que atrás de ti se escondem.
Tu és o livro que a cada dia escrevo e preencho de palavras em mim, até ao dia em que me faltarem páginas, ou o ar que respiro...

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Pérola


Na caligrafia das palavras em mim, nascem silêncios, pausas, lamentos que trespassam o céu azul e a noite escura, adormecendo no horizonte sobre as águas do mar.
Crescem na brisa, voam na ventania, correm velozes em plena tempestade, como sinal de completa catástrofe.
Ouve-se no vazio um som, um grito abafado, uma voz rouca que chora, um pranto amplamente calado.
Perdem-se as palavras em mim no oceano profundo, afogando a esperança consigo, levando na alma a dor que rasga o peito em mil tormentos.
Sentem na pele arrepios, na boca amargo fel degustam, mas lá fundo no meio do mar, encontrarão o seu tão desejado lugar.
Adormecem de olhos abertos, como se sonhassem acordadas, vendo-te como pérola em sua concha, imaginando quem és...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Palavras perdidas


Os últimos dias têm sido marcados pela constante procura de palavras em mim.
Procurei-as em todo o lado, olhei nas profundezas em que navega a minha alma, vasculhei também nos meus mais íntimos pensamentos, busquei-as nos seres que me rodeiam e no ar que respiro...
No entanto era uma procura inglória, as palavras em mim não surgem porque quero, não acontecem porque alguém as pede, muito menos quando são forçadas a nascer.
Ao invés, as palavras em mim procuram a luz do dia, apenas e só, porque são a minha própria essência...
Um ser vivo, por vezes perdido na ânsia de te encontrar nas entre-linhas das palavras em mim...