segunda-feira, 31 de março de 2008

Lágrima partilhada


Escorre no rosto
Por causa de alguém,
Por causa de um desgosto
Ou devido a ninguém...

A lágrima singela,
A pura e a agreste,
A sorridente e bela,
Ou a minha de azul celeste.

Entre as pálpebras fechadas
Fruto de uma dor
Conchas salgadas
Abertas em flor.

Nuns olhos abertos
Feitos de loucura,
Roubados ou espertos
Num frenesim de ternura.

Minha mão no teu rosto,
Na minha face a tua,
Admirar-te num posto,
Sentinela da lua.

No meu peito fechado,
Uma lágrima perdida.
Músico alado
Com timbre de vida.

A lágrima tem duas pontes
Que são braços ao redor
Que te abraçam em fontes
Ou num espaço muito menor.

Podes ver-me chorar
Posso limpar-te a face...
Esta pura forma de amar
É amizade sem desenlace...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Branco


Minúsculas gotículas incessantes de água gélida caem do céu, encharcando-me até aos ossos este corpo, que mais não faz do que deslocar-se do ponto A ao ponto B.
Massa em movimento, seguindo as leis da física, contrariada por escassos momentos de pensamento, supostamente de cariz existencial.
No entanto a massa cinzenta é cada vez mais pintada de negro. Sufocada pelo vazio de pensamentos coloridos.
Aos poucos vou perdendo a capacidade de pensar a Arco-Íris. Já não vejo jardins de sonhos, nem lhes sinto o perfume.
Negritude apenas interrompida por esbranquiçados sorrisos daqueles a quem quero e me querem bem.
É então que caio na realidade...
Afinal não é tudo assim tão mau...

quinta-feira, 20 de março de 2008

Realizar sonhos


As palavras em mim seguem a corrente do sentimento, como um rio que se deixa levar, por entre montes e vales, contornos que me oferece a nudez pura da minha própria alma...
Sigo as letras que nunca foram escritas, em cartas nunca enviadas, onde o prazer se deita sobre o papel, como corpo despido sobre o leito.
Páginas de vida fluem rumo ao mar onde cantam sereias, sentido intenso, desejo imenso...
Aqui sentado na praia da vida, olho o horizonte, onde os sonhos se colam à realidade, onde o mar se encontra com o céu. Sinto na brisa o seu canto, som de uma voz que desconheço...
Tenho saudades um beijo, da doçura de uns lábios que não conheço...
Suspiro...
Tenho saudades do perfume de um corpo, que nunca senti como meu...
Parece impossível saber, sentir, ou mesmo sonhar como serás, sem nunca te ter feito minha, mas a realidade é que muitas vezes o sonho traz as memórias de vidas que nunca conheci.
Espero o tempo chegar ao fim, quando o dia houver terminado, quando a vida for capaz de trocar os sonhos por um pedaço de realidade...

quarta-feira, 19 de março de 2008

Dia do Pai


Um herói da vida real...

segunda-feira, 17 de março de 2008

A origem do nome...


"Pedro é uma personagem complexa, introvertida e apaixonada.
Este grande ambicioso, que gosta de manter uma certa distância dos outros, acha que pode realizar-se através da sua diferença, sem concessões, contra tudo e todos.
É corajoso, obstinado, um bom estratega, difícil de apanhar em falta. É muitíssimo exigente, tanto consigo como com os outros, critica sem indulgência e a sua obstinação raia por vezes a teimosia.
Mas Pedro tanto pode demonstrar uma energia incessantemente renovada como aplicar essa mesma energia para se auto-destruir.
Quando os seus talentos estão de acordo com os seus gostos e possibilidades da época tem tudo para se tornar um ser invulgar.
Pedro pode ser um aprendiz de feiticeiro, um explorador de verdades, um herói carismático que traz sempre alguma luz a este mundo de sombras..."
in Nomes Próprios, Ana Belo

domingo, 9 de março de 2008

Anjo sonhador


Adormeço, sobre o leito dos sonhos, qual anjo caído dos céus...
Meu corpo não me pertence, entreguei-o há muito tempo, partilhei-o com a terra.
No entanto, minhas asas são apenas e só, minhas...
Minha alma voa nos ventos que me atravessam o corpo e seguem muito para lá de onde a vista alcança...
Sou ave, preso numa gaiola imaginária, amarrado a mil teias que me mantêm, restringindo-me os movimentos. Por isso quando a noite vem, dispo o meu corpo, solto a alma e sigo rumo às palavras em mim.
Sentado, na beira do riacho, vejo flutuar em cada folha caída, vidas que passam sem se deter, na corrente do dia-a-dia.
Espero pela vida e deixo-a passar, abrandando-lhe o passo, quero ficar presente, mais um instante aqui...
Quero marcar a vida com palavras em mim, deixar o meu nome escrito na areia, mas depois o mar as faz partir...
Estranha forma de viver, momento em que saio de mim, como quadro eterno de um instante que parei no tempo...
Uma pausa...
Para me olhar enquanto a vida passa...
Ao céu chegarei, anjo me tornarei, e a cada noite virei à terra contemplar o céu, tentando adivinhar qual das estrelas carrega o brilho do meu olhar.
E, ainda que seja apenas um sonho, estarei lá, para acordar da realidade, quando o momento de sonhar, chegar...

E lá vão 26...


9 de Março de 1982, parece que foi ontem, mas já passaram 26 anos desde esse dia.
26 anos de uma história longe de estar completa, uma história repleta de palavras em mim, que se revelam uma letra de cada vez...