quarta-feira, 30 de abril de 2008

Mundo ao contrário


É na escuridão da noite que as palavras em mim ganham forma, como se no branco da tela se revelasse o negro do carvão em traços rasgados pela escrita.
Hoje são apenas uma miragem, não existem, apenas as invento no universo da minha alma. Ontem foram quase realidade que toquei com as pontas dos dedos sem ser capaz de as possuir.
O verbo, reflexo visível da acção da alma é em si, jardim de um paraíso perdido atrás nos tempos de um pretérito imperfeito.
Deslizo sobre o papel imaculadamente branco, adivinho nele palavras em mim que nascem ali, em curvas perfeitas, em traços suaves, criando formas que sei não existirem, mas que acredito poder sentir.
É assim, neste mundo de fabulosas ilusões que me recrio, dia após dia, noite após noite, como se o tempo não passasse de um círculo fechado onde tudo começa, onde tudo o resto acabou.
Esvaio as palavras em mim em frases cheias de nadas, embaladas pelo silêncio suave que se impõe quando percorremos sozinhos e descalços o deserto da nossa própria solidão, envoltos num mar de gente que nos é completamente indiferente.
Por vezes parece que fazemos o mundo girar ao contrário...



1 comentário:

Maria P. disse...

Importa é girar, em cada palavra...

Beijinho*