terça-feira, 5 de junho de 2007

Corpos desnudados


A mão tocando no rosto de mármore esculpido, cabelos sedosos inebriando o meu olhar faminto por onde navega a tua pele eléctrica e descontrolada em busca do porto de abrigo do meu peito com farol.
Teu corpo nu sobre os lençóis ameaça o silêncio no bater do coração que me vai chamando, sussurrando com a alma ao meu ouvido uma certa loucura.
No sonho respiro fundo, entreabrindo os lábios para tocar os teus mais fechados quando de repente a luz do candeeiro projecta as sombras do nosso delírio no contorno dos meus passos, ao aproximar-me de ti muito antes de chegar perto, ou de pensar em te tocar.
Acima da almofada, as formas da cama que se movem demonstram a paixão forte que me agarra a ti, mesmo quando a distância separa nossos mundos líquidos e as lágrimas do prazer se desmontam num rosto pálido em busca de uma remota cor de sangue que apague a dor.
Afundo-me nas tuas pálpebras saboreando a saudade agreste.
Percorro as encostas de charme que se seguem a um arrepio na nuca.
O fogo do teu corpo funde-se com o gelo da minha tristeza e de repente a tua alma flutua na seda dos lençóis, os teus seios são batidos pela brisa da respiração que me ameaça fazer sucumbir à simplicidade e à doçura.
Olhos nos olhos, digo-te sem te falar, que sorrio porque estás, porque ouço quando cheiro o perfume das flores do teu jardim que é num paraíso que tacteio, pelo brilho das coisas, como se o mundo começasse no chão e terminasse no tecto do prazer quando em uníssono se activam os sentidos, se desligam as amarguras do tempo feroz e selvagem e o mundo nasce de novo perante a aurora do nosso despertar.
No profundo instante que os corpos se tocam já o mar evaporou para as estrelas e o céu tombou sobre a terra, já estou sentado na janela com o som fresco das manhãs, com as mãos suportando o rosto e a solidão da tua ausência acordando de um sonho que só tu poderás um dia tornar realidade.

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