terça-feira, 19 de junho de 2007

A nossa praia


Escolhi um lugar tranquilo para te amar interrompido somente pelas ondas do mar, misturando o sal na tua voz.
Sentados, confortáveis, meditávamos em silêncio como almofadas e as pernas cruzadas em lótus. Respirávamos calmamente, relaxando, sentido a brisa marítima.
Cada expiração um desejo, cada gesto uma atenção redobrado sobre os corpos. Os pés em contacto com a areia fina, cansados da caminhada sobre a espuma.
Sentíamos cada pedaço do vento. Sentia cada pressão interior da tua alma, os teus olhares difusos, progressivamente mais brilhantes e misteriosos.
Eu sentia...
Tu sentias...
Deixei que tudo te captasse a atenção e vibrasses como as algas à tona da água. Os meus dedos passeando na tua face.
Fazer desse momento um momento de prazer...
Os corpos estabelecendo um primeiro contacto, felizes por sentir o luar mergulhado na pele.
Não formulámos palavras, sentimos apenas.
A pouco e pouco o contacto com as demais partes do corpo através das estrelas, agradecidos pelo seu calor, pela sua genuína atenção.
Os corpos despidos sobre a areia inundada de espuma da paixão.
Um elo, um calor, um suspiro, um arrepio deslizando na pele de seda, uma outra forma de ser, de prazer, delimitando os contornos de ambos só seres que habitamos, que sentimos, que conhecemos (outras vezes nem tanto)...
Buscamos o espírito do céu, a loucura de cada gemido que a terra solta.
O perfume do teu interior fluindo para as rochas, arrebatando-se num flash de suprema ternura e satisfação.
Um desabrochar, um levitar de prazer infindável, inolvidável, como a luz do farol que ao longe rompe o nevoeiro e mergulha na imensidão dos barcos que flutuam sobre espelhos de água.
No instante seguinte o teu sorriso mais aberto, mais puro, suave, mais perto, o abraço das anémonas à volta do meu corpo humedecido, do meu peito colado aos teus seios de olhos fechados dormindo em silêncio.
Desce a maré até ao umbigo, cresce a noite, o sono e as pálpebras cerradas, já os meus dedos mergulham na gruta funda e húmida tocando a areia molhada.
Outras curvas se desvendam ao fundo das tuas costas suaves, salpicadas por tiras de cabelo junto aos ombros, como portas semiabertas para entrar como um fantasma e esconder-me nos finíssimos fios e esperar o dia seguinte sem que a prata da lua caia na totalidade sobre a ondulação.
Adormecidos na areia, amando também a sonolência tranquila, sonhamos perdidamente de mãos dadas, como gaivotas no seu voo ligadas pelas asas inconfundíveis do desejo e da felicidade.
Também a praia dorme.
Somente as ondas continuam, limpidamente, secretamente, subindo a areia, tentando tocar o teu corpo, mas onde a única onda sou eu e o mar ali tão perto, é o meu coração junto do teu...

2 comentários:

Maria P. disse...

A tua praia beijou o meu mar...

Luís Galego disse...

Não formulámos palavras, sentimos apenas.


sente-se este poema com sensualidade...