sexta-feira, 8 de junho de 2007

Velocidade


Apanhado pela solidão, ainda que temporária, conduzo pelas ruas ao acaso.
Os candeeiros não me falam perante a incrível saudade que me ataca pelas costas.
É como uma faca de várias pontas espetando-se na minha pele, dilacerando a carne, perante a transparência desaparecida na tua ausência.
Sem ti, as ruas transformam-se em monstros sem cor, arregalam os olhos com uma fúria que me enlouquece, mas não sei responder-lhe para não doer tanto.
Acelero mais, mas isso apenas conduz à ilusão, apenas dá adrenalina às células.
Ainda assim é impossível esquecer a forma do teu rosto na brisa do retrovisor, ou o teu riso no ruído do motor, ou mais difícil ainda o abraço como o contacto dos pneus no alcatrão escaldante.
Travo a fundo na rotunda, paro...
Tento que não arda tanto dentro do peito, mas a chama é cada vez mais forte e ata-me com violência à velocidade trespassante das horas infindáveis.
Volto a acelerar sem rumo, subo a montanha do bom filho de deus, onde o nevoeiro é denso e a bruma é condensada como o meu peito.
Vais estar longe, mas sempre presente aqui no meu pensamento.
Diverte-te muito e volta depressa…
Já tenho saudades…

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