domingo, 12 de agosto de 2007

Fogueira


Procuro uma fogueira para queimar todos os blocos de notas que escrevi, todos os apontamentos de uma vida de palavras em mim.
Um fogo lento que queime a alma, adormeça em suas labaredas, o sonho.
Desenhe sobre o ar formas inventadas de um corpo qualquer.
Uma luz, uma perdição que nos arde, bem fundo, no coração.
Imóvel, ali fico imaginando as imagens desfeitas, em folhas de papel incinerado, que um dia renascerão em formosa árvore, de ramos estendidos ao vento...
Vejo o tempo, numa chama eterna, transformando as formas, devastando a matéria, numa mutação constante, numa troca incessante de energias.
Ficam a arder nesta fogueira, os desejos que queimo, lentamente, que os corpos consomem e a alma alimentam, numa infindável dança de luxúria.
Queimam-se com ele, os pecados não realizados, alcançando-se por fim a purificação dos sentidos.
Nesta fogueira dos tempos, a luz deste lume intenso, propaga-se qual farol no meio da tormenta...
Paro...
Penso...
Deixo as mãos cruzarem a chama, sinto o calor que me aquece, mas sinto-me incapaz de destruir as palavras em mim...
São parte da minha história...
Apago a fogueira...
Sigo o meu caminho...
Ainda restam muitas palavras em mim por descobrir...

1 comentário:

Maria P. disse...

Segue.
Gosto das tuas palavras em mim...