quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Nascer de novo


Sinto que vivo
Numa redoma de vidro.
Tentei infinitas vezes
Estilhaçar tal prisão
E por alguns anos,
Anos áureos que vivi,
Julguei tê-la quebrado
Por fim...
Hoje dou por mim
Novamente a ver a vida
Passar lá fora,
Num misto de realidade e ilusão
Que já não distingo.
Quando julgo poder tocá-la
Sinto o vidro.
Se houve tempos
Em que lutei
Com todas as minhas forças
Eles passaram...
Hoje continuo a ter a mesma sensação
De vida não vivida,
De mero espectador
Aprisionado no olhar,
Sem nunca ter conseguido voar...
Com os punhos cerrados,
Lavados em sangue,
Tentei quebrar
Tal prisão,
Mas foi em vão...
Esgotado e ferido,
Finalmente apercebi-me
Que jamais o conseguiria.
Desisti...
Se por alguns anos apenas
Julguei estar livre,
Mais não foi
Do que uma mera ilusão
Gerada pelo reflexo
Da vida dos outros,
Nas paredes planas e frias
Do vidro cristalino,
Que sempre me cercou...
Já desisti de tocar
Quem passa,
De andar
Para a frente e para trás,
Enjaulado,
De mudar seja o que for...
A realidade,
É que logo bato numa parede,
Fria
E cristalina.
Enganadora,
Mas real
E todo o meu esforço
É fracasso
E dor...
Hoje já não luto,
Já não tento entender,
Nem sequer pretendo ver,
Nem olhar para fora...
Hoje até me tapo de negro,
Para que a luz que atravessa o vidro
Não me fira,
Nem me traga imagens
Da vida que nunca poderei ter...
Hoje sou eu
Quem se fecha sobre si mesmo,
Querendo já
Que a redoma não fosse vidro,
Mas somente pedra...
Sem sons,
Sem vida,
Sem nada
Que me pudesse fazer desejar tal vida,
Para que esquecesse
Finalmente tudo
O que jamais poderei ser...
Hermético,
Puro,
Mas perdido
Recolho-me aos confins
De mim mesmo,
Devorando-me
Numa alma sem cor...
Já não quero nada.
A luz encadeia-me,
Os sons atordoam-me,
Os movimentos desnorteiam-me...
Num recanto
De um quarto escuro,
Escorrego meu corpo
Caído numa parede fria.
No chão choro,
Mas as lágrimas gelam à saída.
Atordoado
Numa angustia sem fim,
Mutilado por dias iguais,
Banais,
Já nada espero
Senão o fim,
Para poder nascer de novo...

2 comentários:

Maria P. disse...

Nascer de novo, a esperança no recomeço...

Beijinhos*

Anónimo disse...

pousa a cabeça em meu colo... embalo-te até adormeceres... tudo será melhor quando acordares...

xicoração
da pequena