quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Capitão de um barco à deriva


Sou capitão de um barco à deriva,
Cujo destino já está traçado.
Navegar rumo ao abismo
Não foi tarefa que sonhei para mim,
Mas os remos tomaram-me os braços
E enredado fiquei,
Sem fuga ou esperança possível...
Com o passar do tempo,
Ventos e marés,
Meus braços cansados,
Madeira se tornaram
E os remos já não são mais
Do que extensões reais de mim...
Este navegar constante
Contra a corrente
Durante anos e anos...
Tentar adiar o inevitável,
O abismo, o naufrágio,
Leva-me à exaustão constante
De quem não dorme,
Não come,
Mas ama,
Mantendo os olhos firmes na corrente...
Estou cansado,
Mas tão cansado
Desta viagem inútil
A lugar nenhum,
Que se não fosse
Pelos passageiros amigos em viagem
Deixava de remar...
Que a corrente me levasse
Até aos rápidos da quebrada,
Para finalmente ver paisagens,
Em vez de estar sempre no mesmo lugar...
Já sinto o barco a encher de água,
Uma gota aqui,
Uma gota ali,
Todos os dias pesam mais
Meus braços de remar
Para lado nenhum...
Meu esforço é inglório,
Pois mais não faço
Do que resistir contra a corrente
Mas também não vou a lugar nenhum,
No mar calmo ou agitado...
Só,
Sigo viagem,
Capitão por baixo de sol,
Por baixo de chuva,
Sem mais ninguém para remar...
Tivesse eu tempo para descansar,
Virar a cara,
Ver outro horizonte
E talvez pudesse mudar de rumo,
Mas meus braços são meu remos
E o meu corpo aos poucos
No barco se tornou...
Continuo a levar passageiros,
Pelos quais tenho que remar,
Os amigos verdadeiros...

2 comentários:

Anónimo disse...

onde eu já ouvi isto?...
não sei onde vais buscar estes pensamentos, mas certamente já nos encontramos por esses lugares...

um beijo
com saudade
da pequena
Patrícia

Natureza disse...

é lindo! daqueles poemas que nos dizem mesmo tudo, e os podemos aplicar a situações concretas da nossa vida, parecendo descreve-las ao pormenor!