sábado, 28 de julho de 2007

Boa viagem



Calmamente o abraço do vento
Atravessa a linha
Onde os meus passos têm medo da luz.
Ouço o ruído do ferro que treme,
Da madeira que range,
Da gravilha que fermenta
A absolvição dos meus olhares indiscretos.
A estação vazia adormece,
Porque o nevoeiro dos lugares nasce todo aqui.
Segredo.
Há rede e electricidade nos instantes que quero
Na curva infinita do coração.
As minhas pegadas faiscam lágrimas.
É hora de regressar ao sono para acordar,
Para abordar as pálpebras
Numa das janelas do comboio que passa,
Agitar a mão e dizer adeus ao sol que se esconde.
O teu sorriso não me pertence.
Ouço o perfume da tua pele movimentar o mar distante.
Vejo as palavras florirem da tua alma
E fazerem crescer um manto suave,
Em outro coração,
Por onde não viajo.
Linhas cruzar-se-ão no instante do abraço.
As linhas dos teus braços e dos meus,
Quando as saudades estiverem olhos nos olhos,
E se atraiam corpo com corpo
Num abraço sem sentido.
O comboio já vai longe,
Mas a linha permanece.
Assim quando tu e eu
Viajarmos em comboios diferentes
A alma será a mesma
E a linha que vai do fim da terra ao princípio do mar
Terá o mesmo elo de ligação nos sentimentos...
Dois corações num só.
Adeus...
Boa viagem...

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