segunda-feira, 9 de julho de 2007

Este não é um poema de amor


Sei que gostas do que escrevo e como escrevo o que sinto isso significa que gostas do que sinto, mas será que sentes o que sinto?
É muito simples olhar para um quadro e dizer se gostamos ou não, quer seja pela sua cor, pela imagem captada ou nem que seja apenas pela sua moldura em talha dourada, no entanto, ser capaz de sentir o que ia na mente do pintor no momento da criação, isso está ao alcance apenas de alguns privilegiados.
Claro que quando o pintor emprega total empenho e honestidade na sua obra se torna mais fácil captar o que o moveu, mas para isso é necessário estar predisposto a que isso aconteça.
Em tudo o que escrevo vou buscar inspiração ao meu íntimo, à minha essência, aos meus sentimentos mais puros, mas é óbvio que quando chega a hora de transportar tudo para o papel procuro dar-lhe um toque mais requintado, explorando ao máximo o dicionário das palavras em mim.
A criação poética, se isso se pode chamar ao que escrevo, consiste em tornar os mais simples e honestos sentimentos em palavras que transportem até quem as recebe todo o calor e carinho de quem as escreve.
Por exemplo quando me refiro a um anjo divinal isso não significa que adore uma qualquer figura de mármore frio que me olha do alto de um pedestal, adoro sim uma mulher de carne e osso, cujos sentimentos e emoções despertam em mim reacções que mais nenhum ser é capaz de o fazer.
Não procuro um jardim de flores apenas pela sua cor, para isso bastava-me um ramo de flores artificiais, ao invés procuro o jardim como um todo, a sua cor, os seus aromas, a sua textura, o pólen que dá às abelhas a matéria-prima para fazer o mais doce mel, procuro até as lágrimas de orvalho das manhãs...
Escrevo porque sinto, mas não quero que sintas porque escrevo.
Como diria Camões:
"Amor é fogo que arde sem se ver..."
E eu...
Eu não tenho receio de me queimar...
E tu?
Mas este não é um poema de amor, são apenas "As palavras em mim"

1 comentário:

Maria P. disse...

São:
As palavras em nós.

Um beijo*